
O medo diante da ameaça Djance me consumiu.
Sobre os erros e decepções, nos deparamos com grandes aprendizados, isto é, quando temos a virtude da sobrevivência diante destes mesmos erros. Fosse outra situação talvez não tivesse a mesma sorte.
Ainda dissertando sobre minha noite tenebrosa, a imagem dos fatos macabros permeia meus pensamentos ainda neste momento em que escrevo.
Retomando a situação anterior, para elucidar os fatos, Skizuh que antes caíra nas maliciosas tentações da druida do bambuzal agora lutava por sua vida. Emo já estava muito distante, e Zuk combatia um demônio andrógeno qualquer.
Sozinho entreolhava a horda de servos e cervos, que preparavam uma espécie de ritual. Neste momento nefasto que percebi meu erro: na tentativa de me disfarçar em meio ao circo de horrores, larguei JUCA ( meu instrumento musical e também minha arma ) na Resistência. Como seria capaz de defender-me ou anular o ritual sem o auxílio de meu fiel companheiro?
Assim formou-se ao centro um círculo profano, e uma sacerdotisa ( ou sacerdote , não sei dizer ao certo ) proferira o ritual de invocação:
Aserehe ha de he
De hebe tu de hebere seibiunouba mahabi
an de bugui an de buididipi
Fendas abriram no solo, o odor do enxofre invadiu o ambiente, e as linhas desenhadas em giz tornaram-se vivas. Ao centro surgiu uma nefasta criatura... Olhos cintilantes, traços femininos, corpo de homem semi nu. Sua dança exótica parecia hipnotizar as bestiais deformidades do ambiente.
Quando o desespero me consumia em minhas falhas empreitadas de fuga, eis que surge Emo, desta vez sorrateiro, ladino, sagaz. Cautelosamente desarmou um mecanismo em uma das paredes nos permitindo sair sem despertar atenções ( pelo menos acreditávamos ).
Em um dos corredores da fortaleza Djance, um grupo de rangers ( caçadores ) estava em reunião, pareciam planejar um ataque aos dragões. Próximo a eles estava Skizuh, que sofrera um ferimento letal, e agonizava, pedindo por um remédinho milagroso que apenas a druida tinha posse, e negava.
Preocupado com nossa situação caótica, esqueci-me de Zuk, que aparentemente fora consumido pelas feras. Despistando o grupo de rangers e acompanhado apenas de Emo, fomos de encontro a Laytzche, que esbanjava um sorriso macabro. Logo atrás de Laytzche surgia um dragão de pele, muito empático em relação à presença da jovem.
Este fato despertou minha atenção para a então companheira de Emo, e a distração me foi muito custosa. A dragoa, aproveitando-se de minha brecha mental, lançou sobre mim sua aura de influência, e me ofertou sua companhia. Num momento inicial pude recusar, devido à minha considerável força de vontade, porém algo quase mudou o rumo daquela noite. Sem hesitar, a dragoa sacou duzentas peças de ouro, e me ofertou. Pasmo diante de tal quantia, e imaginando os milhares de bem feitorias para minha pessoa com tanta fartura, estava prestes a tocar seu dinheiro maldito.
Instantaneamente Emo se entrepôs entre as moedas e minha mão ( coisa de ladino, pqp ), deu me uma mão de realidade, e contemplando o erro que estava prestes a cometer, lhe retribui com um toque de gratidão.
A fúria dominou os olhos da dragoa pronta para nos baforar seu hálito ígneo ( cachaça para caralho na corrente sanguínea + esqueiro ) mas pude perceber uma aura interferindo em seu poder, e dragoa subitamente se retirou aterroziada. A esta altura, os rangers e todo o resto, menos eu e Emo há muito evacuaram a área.
Temerosos por qualquer acontecimento aleatório que por ventura viria a se passar no edifíco Djance, emo e eu partimos em fuga.
Entre mortos e feridos, recolhemos os corpos esvaídos de alma de Skizuh e Zuk, e durante seu velamento, diversas homenagens foram-lhes prestadas.
Lembro-me bem que a tristeza que invadia minha alma me levou a prestar um tributo ao mago. Em meio ao círculo funerário e agora em posse de Juca, entoei uma canção para contar aos presentes o último feito do mago para comigo em vida. E esta pequena história que se segue pode vos relatar tudo.
A noite era fria e a atmosfera densa. No interior da Chatuba ( nome específico de nossa matriz dentro da Resistência ), foi decidido que deveríamos eu e o mago utilizarmos de nossos poderes sobrenaturais para expurgar do andar térreo de nosso edíficio os seres diabólicos que ali jaziam. Ao fim, apenas um adversário permanecia de pé, a temerosa Succubus ( ou Succubae ). Um demônio que travestia-se de bela mulher, para sorver dos mortais não só a vida, como escravizá-los em alma e utilizá-los em seus propósitos. Eu me julgando muito proviente para a situação, preparei mentalmente todo o ritual: era necessário criar um círculo mágico de dispersão arcana, e assim devolver a criatura para seu lugar definitivo, longe de nosso plano. Para tal, Juca não seria de bom uso, eu deveria usar um artefato que me foi dado por meu pai em circunstância distante. Tratava-se de uma varinha mágica muito peculiar, e que emanava muito poder. Temeroso sobre levantar suspeitas deixando meu implemente à mostra, questionei o mago se era possível que me emprestasse por aquela noite, um de seus porta varinhas de contenção arcana. Para minha surpresa , o porta varinhas do mago juvenil era tão juvenil quanto sua fama rezava. E assim descobri uma falha temível de meu camarada mago...Seu instrumento mágico era demasiadamente pequeno para afetar qualquer criatura daquela estirpe. Desprotegido contra investidas impróprias, acabei travando uma batalha exaustiva contra a criatura, que de cara pode perceber a aura mágica que emanava de meu instrumento.
Velados os corpos,entristecidos nossos corações estavam pelas baixas, porém tinhamos a certeza que nada há no acaso, e o conformismo pode nos conter da melancolia.
"Kinder Seis Cordas, minha atração por sua progenitora é meramente gravitacional" Ed-Son, o feiticeiro mál caráter.